Maria Martins
Maria de Lourdes Martins Pereira de Souza (Campanha/MG, 1894 – Rio de Janeiro/RJ, 1973)
Escultora, desenhista, gravadora, escritora. Com poética extremamente individualizada, apresenta-se como figura singular na história da arte moderna brasileira.
Desenvolveu grande parte de sua carreira no exterior em virtude das atividades do marido, o embaixador Carlos Martins. Inicia-se na escultura em 1926 e aperfeiçoa-se com o escultor belga Oscar Jespers. Em 1939, muda-se para os Estados Unidos; inicialmente para Washington e, depois, para Nova York, onde estuda escultura com Jacques Lipchitz, realizando trabalhos em bronze. Em 1941, faz sua primeira exposição individual, na Corcoran Art Gallery, em Nova York, onde apresenta esculturas figurativas realistas com temas retirados da cultura brasileira ou temas religiosos, produzidos em materiais diversos (gesso, madeira, terracota e bronze). No mesmo ano, estabelece ateliê em Nova York. Nesse momento, a cidade vive clima de efervescência artística em virtude da emigração de vários artistas europeus que ali se estabelecem para fugir da Segunda Guerra Mundial. Tal vivência provavelmente leva a artista a absorver novos conteúdos, incorporando elementos surrealistas ao seu trabalho.
A mudança torna-se visível em sua segunda exposição individual, em 1942, na Galeria Valentine, na qual apresenta formas oníricas de inspiração surreal realizadas em bronze. Por causa dessa mostra, conhece expoentes do surrealismo, como o crítico e escritor francês André Breton (1896-1966), o pintor francês Marcel Duchamp e o artista alemão Max Ernst. Sua segunda exposição na galeria nova-iorquina, em 1943, Amazônia, é um verdadeiro sucesso. A artista continua a trabalhar com temas advindos de tradições e mitos brasileiros, e a referência à natureza passa a ser feita como símbolo da potência do selvagem e do desejo, em contraposição à natureza dominada da civilização ocidental. Com bronze, cria formas orgânicas cada vez mais livres de qualquer figuração realista, utilizando títulos sugestivos, procedimento característico de outros artistas surrealistas.
Na obra Impossível (1944), que ganha várias versões de bronze, uma delas adquirida pelo Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, em 1946, seres híbridos (homem e mulher com aspecto de animais ancestrais) são colocados frente a frente, sugerindo uma situação de desejo profundo, mas também de agressividade e morte, sugerindo os limites da união plena entre os seres. Nesse sentido, certos animais, como a cobra e a aranha, saem do universo mitológico das lendas amazônicas para encarnar símbolos relacionados à vivência da artista.
Em 1947, André Breton assina o prefácio do catálogo de sua mostra individual, realizada na Julien Lery Gallery. A ênfase na força do selvagem e do desejo encanta Breton, que escreve: “Maria, e atrás dela – quer dizer, nela – o Brasil maravilhoso onde sobre os mais vastos espaços … paira ainda a asa do irrevelado. […] Ela não deve nada à escultura do passado ou do presente”. A partir desse período, Maria Martins participa de grandes mostras do surrealismo, como a organizada, em 1947, em Paris pelo escritor francês.
Em 1948, muda-se para Paris, onde seu ateliê se torna local de encontro de intelectuais e artistas. Volta definitivamente ao Brasil em 1950. Ajuda na organização da I Bienal Internacional de São Paulo, da qual participa como artista convidada. Contudo, sua poética surrealista não é bem recebida no meio artístico brasileiro da primeira metade dos anos 1950, dominado pelas questões do construtivismo e da arte abstrata.
Sua última exposição individual transcorre em 1956, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, instituição que ajuda a fundar. Pelo que se observa do catálogo da mostra, essa se dá em clima de hostilidade, pois Maria Martins publica texto que defende a liberdade de expressão do artista5. No entanto, críticos importantes escrevem sobre seu trabalho, como Mário Pedrosa (1900-1981) e Murilo Mendes (1901-1975). Como escritora, assina coluna no Correio da Manhã e publica, entre outros livros, A Índia e o Mundo Novo, A Ásia Maior e o Planeta China.
Com uma carreira nacional e internacional sólida, Maria Martins se inscreve como um nome de referência da arte brasileira.
Fonte: Itaú Cultural.
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