Livio Abrahmo

Lívio Abramo (Araraquara/SP, 1903 – Assunção/Paraguai, 1992)

Gravador, ilustrador, desenhista. Abramo tem como marca a versatilidade. Dos temas aos métodos, expressa em suas obras os acontecimentos sociopolíticos de seu tempo, além de explorar diferentes técnicas. Constrói uma carreira sólida, mas flexível à experimentação, contribuindo para as artes plásticas em diferentes esferas.

Começa a estudar desenho com Enrico Vio (1874-1960) em 1909. Com incentivo do professor, segue a carreira artística, fazendo suas primeiras ilustrações para pequenos jornais na década de 1920. Autodidata em gravura, realiza, em 1926, suas primeiras obras, trabalhando de forma rudimentar com lâminas quebradas em pedaços de madeira. Adquire pouco depois suas primeiras goivas1. Em 1928 e 1929, faz gravuras em linóleo para o jornal Lo spaghetto, em que retrata a vida operária em formas bastante simplificadas, ao estilo cubista. No fim da década, conhece as gravuras de Oswaldo Goeldi e visita mostras de expressionistas alemães, que o afetam pela força e expressividade de sua arte, cheia de cor e de sentimento, manifestando o desejo de transformação que o artista procurava definir em seu trabalho.

No início dos anos 1930, a obra de Lívio Abramo é bastante influenciada pelo movimento da antropofagia, apresentando formas largas e arredondadas ao estilo de Tarsila do Amaral, com elementos paisagísticos estilizados e deformação dos personagens. As linoleogravuras Litoral fluminense e Mulher e bananal, ambas de 1933, são exemplos dessa fase. Outra influência importante que se manifesta nos trabalhos de Abramo é sua relação com a política. No período varguista, o artista se filia ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), do qual é expulso em 1932. Em 1931, começa a trabalhar no Diário da noite como desenhista, mas, como suas charges são consideradas demasiado críticas – a exemplo de Inundação no Canindé –, é designado para o cargo de titulista da seção internacional, no qual permanece até 1962. Em paralelo, dedica-se ao sindicalismo.

A convite do Itamaraty, integra, em 1962, a Missão Cultural Brasileira no Paraguai, que, posteriormente, tornou-se o Centro de Estudos Brasileiros. Muda-se para lá, onde se radica, e dirige, até 1992, o Setor de Artes Plásticas e Visuais. É fundador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraguai. Nas gravuras da fase paraguaia, recria a paisagem do país, trabalhando com pontilhados e linhas que se aproximam da renda local, nhanduti, muito delicada. Intensifica-se a simplificação da forma, predominam os elementos horizontais e verticais, que dão um ritmo intenso, lírico e por vezes dramático a composições quase abstratas, em que o artista não perde o referencial visual, buscando traduzir a geometria das fachadas das casas e dos povoados.

A produção de Lívio Abramo situa-se entre a figuração e a abstração. Seu engajamento ao programa modernista gradualmente é alterado pela abertura às vertentes não figurativas que começam a chegar ao Brasil após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O artista consegue conciliar, de maneira peculiar, esses dois conceitos opostos e, com refinamento técnico, apresenta em seu trabalho soluções formais de grande interesse estético.

Fonte: Itaú Cultural.

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