Carlos Fajardo
Carlos Alberto Fajardo (São Paulo/SP, 1941)
Artista plástico, professor. Destaca-se na pintura e no desenho, suportes utilizados no início da carreira, embora mais tarde se oriente para as questões da escultura e da instalação, especificamente para a discussão da superfície.
Durante a década de 1960, enquanto cursa arquitetura na faculdade Mackenzie, tem aulas de desenho com o artista Wesley Duke Lee. Nesse período, estuda também pintura, história da arte e comunicação visual, gravura em metal e litogravura. Entre 1966 e 1967, ao lado dos artistas Frederico Nasser, Geraldo de Barrose José Resende , funda o grupo Rex e a Rex Gallery, em São Paulo, onde organiza eventos e edita o jornal Rex Time.
A corrente estética do minimalismo americano dos anos 1960 interessa o artista pela questão construtiva e pelo uso de materiais industriais. Na emblemática obra Neutral (1966), por exemplo, utiliza material industrial e não participa da produção da obra. A peça consiste em um cubo de 40 cm3, produzido em acrílico transparente, contendo outro cubo interno, cujo traçado feito com incisões se encontra deslocado em relação ao cubo maior. Vende-se apenas as instruções para a confecção da obra pelo próprio comprador. Há também necessidade de interação do espectador com a obra, porque o cubo interior só é percebido pelo manuseio dela.
O interesse pelo ensino de artes se inicia com a criação do centro de experimentação artística Escola Brasil (1970-1974) com os artistas Luiz Paulo Baravelli (1942), José Resende e Frederico Nasser. Desde a Escola Brasil, Fajardo estabelece relação entre sua formação em arte e o ensino: considera que a arte é aprendida, não ensinada. Essa concepção nasce no fazer artístico, cujo processo interessa mais do que o objeto final. A prática artística e as questões do ofício retroalimentam o aprendizado do artista, que desenvolve um discurso com base no próprio repertório. Do mesmo modo, o espectador não precisa ter conhecimento prévio de arte, uma vez que as obras devem ser vivenciadas, não entendidas.
O interesse pela superfície como propriedade material aparece também na pintura, técnica explorada até o começo dos anos 1980, como a tela Azul (1977), apresentada em 1981 na XVI Bienal de São Paulo. Já os trabalhos em fórmica são desenvolvidos de 1969 até os anos 1990. Nessas obras, o uso do material industrial carrega a superfície de cor, reorganizada em formas que ainda se relacionam com a figuração, como em República do Líbano (1971).
Durante os anos 1980 e 1990, a atividade pedagógica se expande com aulas em seu ateliê. Em 1987, é premiado pelo Ministério da Cultura com a bolsa Ivan Serpa e, em 1989, com a bolsa Vitae. A partir de 1998, depois de concluir o doutorado em artes com a tese Poéticas visuais, a profundidade e a superfície, torna-se professor no Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), orientando alunos de graduação e pós-graduação.
Está presente em cinco edições da Bienal de São Paulo (1967, 1981, 1987, 2002 e 2010) – e na Bienal de Veneza de 1978 e 1993. Participa também de duas edições do Arte Cidade – a primeira (1994) e a quarta (2002) – e da I Bienal do Mercosul (1997).
Ao longo das décadas, suas obras passam a ocupar espaço de grandes proporções e, como em Neural, sugerem maior proximidade com o espectador. A instalação montada na XXV Bienal de São Paulo (2002) é um bom exemplo. Ela convida o espectador a entrar em um ambiente de vidro, com 7,5m x 6m de lados e 2,40 m de altura, revestido com uma superfície de metal fino que não permite que as pessoas do lado de dentro vejam o espaço exterior – e vice-versa. A entrada é uma espécie de corredor que tangencia a totalidade do espaço. O revestimento também impede a passagem do som. Essas características propiciam ao espectador vivência plena e articulam as relações sobre dentro e fora, propostas pela fisicalidade e pela presença da obra em seu mapeamento do espaço. A organização espacial na instalação também pressupõe relação de troca, em termos de aceitação e oposição, para oferecer a experiência vivida pela e com a obra.
Em 2012, o artista cria a instalação No meio do vão, com piso e cobertura transparentes em um espaço de convivência do Sesc Belezinho. A profundidade em eixo vertical e a luz ambiente possibilitam que a estrutura instalada pelo artista – pórticos que seguram espelhos – multipliquem os reflexos do público, cujas sombras aparecem em todas as faces construídas.
Entre as técnicas que utiliza, o desenho é a que oferece o caminho plástico para o raciocínio visual, a memória do gesto e a relação entre os materiais – o grafite e o papel. O contraste oferecido pelo encontro de materiais distintos perpassa toda a produção artística do artista. Suas obras estão em acervos do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, do Parque da Marina, em Porto Alegre, e da Fundação Demócrito Rocha, em Fortaleza.
Carlos Fajardo se apresenta como um nome importante da arte contemporânea brasileira não apenas no aspecto da produção como também na vertente do ensino.
Fonte: Itaú Cultural.
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