Anna Bella Geiger
- Anna Bella Geiger, Semmer Blau Platz, Serigrafia 76/300 – 15X21 cm
Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro/RJ, 1933)
Escultora, pintora, gravadora, desenhista, artista intermídia, professora. Uma das primeiras artistas a se engajar na arte abstrata no Brasil, explora a potencialidade da abstração, sem, contudo, alienar-se do contexto social e político em que vive. Pioneira, inovadora e multifacetada são alguns dos adjetivos comumente usados para se referir à obra desta artista, marcada pela experimentação e inventividade. Estimulada pelas questões levantadas pela arte conceitual e o momento político vivido, apresenta em seus trabalhos sobretudo questões relativas à identidade e cultura nacionais, ao local do artista na sociedade e à constituição do meio de arte no Brasil e sua posição no mundo. Anna Bella Geiger é um dos ícones da arte abstrata no Brasil. A constante experimentação na busca por uma estética própria, aliada à sua consciência político-social e ao papel da arte no mundo, faz dessa artista uma importante referência da arte nacional.
Inicia seus estudos artísticos em desenho, gravura e pintura no ateliê da polonesa Fayga Ostrower (1920-2001), na década de 1950. Num primeiro momento, seu trabalho se vincula ao abstracionismo informal. Em 1953, a artista participa da histórica e inaugural Exposição Nacional de Arte Abstrata, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, Rio de Janeiro. Em 1954, vive em Nova York, onde frequenta as aulas de história da arte da alemã Hannah Levy (1912-1984), no The Metropolitan Museum of Art (MET) [Museu Metropolitano de Arte], e alguns cursos, como ouvinte, na New York University.
Retorna ao Brasil no ano seguinte e, entre 1960 e 1965, participa do ateliê de gravura em metal do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Mam Rio), onde passa a lecionar três anos mais tarde. Nesse período, completamente dedicada à gravura, passa a desenvolver uma figuração de base abstrata.
De 1965 a 1968, produz o que é chamado pela crítica de “fase visceral”, sob a influência da nova figuração. As imagens trazem a pesquisa da realidade orgânica mediante a representação fragmentada do corpo como referência a um possível mapa do microcosmo. Essa fase antecipa a utilização da cartografia em sua produção, cujo eixo é o questionamento da noção de limitação de territórios culturais baseada em fronteiras geográficas. Problematiza, por exemplo, a existência de uma “cultura brasileira” comum a todos os habitantes da nação. Ao mesmo tempo, a artista compõe suas imagens em chapas de metal recortadas, explicitando e explorando artisticamente o próprio processo material de produção da técnica de gravura em metal. Garganta (1967) e Limpeza de ouvido com cotonete (1968), são exemplos dessa fase visceral.
Apesar da importância e constância da gravura em sua obra, em Circumambulatio (1972) percebe-se a necessidade da artista de encontrar novos meios de expressão. Nesse sentido, sua produção da década de 1970 é marcada por um caráter eminentemente experimental: fotogravura, fotografia clichê, fotomontagem, serigrafia, xerox, cartão-postal, vídeo e Super-8 são algumas das mídias utilizadas em suas obras.
A série Brasil nativo/Brasil alienígena (1976-1977), na qual dispõe nove cartões-postais com cenas da vida indígena lado a lado aos retratos de sua vida cotidiana, é emblemática do período. Nela a cultura brasileira é pensada como resultado de tensões, continuidades e descontinuidades, negando uma unidade cultural orgânica. Nega ainda a própria narrativa hegemônica acerca da colonização brasileira, uma vez que questiona a representação idealizada que esses cartões fazem dos indígenas, especialmente numa época em que sofriam com a violência das políticas de Estado do governo militar.
Nesse momento, o uso irônico e transgressor da cartografia torna-se um elemento fundamental de sua obra em séries como O pão nosso de cada dia (1978) e Local da ação (1979-1980). O caráter icônico dos mapas é tensionado a fim de criar uma verdadeira “topografia da arte” e simultaneamente problematizar as delimitações (culturais, políticas, sociais) indicadas por fronteiras e limites.
Nos anos 1980, a artista começa a desenvolver longas séries, como Pier e Ocean, fazendo uma reavaliação crítica tanto da história da pintura quanto dos signos de seus trabalhos anteriores. Em 1987, publica, com Fernando Cocchiarale (1951), o livro Abstracionismo geométrico e informal: a vanguarda brasileira nos anos cinquenta. Os anos 1990 são marcados por séries como Fronteiriços, em que novos materiais são usados. As formas cartográficas reaparecem vazadas em metal dentro de caixas de ferro ou gavetas de mapotecas preenchidas por encáustica. No limite entre gravura, pintura e objeto, essas obras são o emblema de toda sua produção, na medida em que atualizam as séries anteriores.
Nos anos 2000, retoma seu interesse pelas novas tecnologias, utilizando o vídeo em associação com a gravura (clichês de metal) e arquivos de ferro na instalação Indiferenciados (2001). Em 2023, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) realiza a exposição Totius Orbis Remix, uma retrospectiva dos trabalhos da artista, em homenagem aos 70 anos de carreira.
Fonte: Itaú Cultural.
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