Edgar Koetz
Edgar Koetz (Porto Alegre/RS, 1914 – 1969)
Professor, desenhista, gravador, artista gráfico, pintor. Como artista gráfico, manifesta o imaginário moderno de sua época, em imagens que exploram a planaridade por meio de um acentuado caráter caricato, onde predominam linhas angulosas e geométricas. Na pintura, retrata transformações nas paisagens urbanas, muitas vezes realçando a sobrevivência de aspectos bucólicos e campestres em meio ao crescimento das cidades.
Edgar Koetz passa a infância na capital gaúcha. Seu envolvimento com o desenho é tão grande que, ainda com 15 anos, ganha do pai seus primeiros cartões de visita, onde lê-se: “Edgar Koetz – Desenhista”. Em sua cidade natal, ainda adolescente, começa a atuar como aprendiz de clicherista na Fotogravura Geyser, mas logo em seguida se torna principiante de litógrafo na editora Livraria do Globo, que então possui o maior parque gráfico da cidade. A editora dispõe de uma seção de desenho dirigida pelo artista Ernst Zeuner (1895-1967), que traz da Alemanha uma série de princípios gráficos modernos, logo absorvidos pelas práticas de Koetz. O artista produz dezenas de ilustrações para livros e de capas da Revista do Globo, que o notabilizam. Nestas capas, onde é recorrente a figuração de rostos femininos, vemos os hábitos de lazer da elite sulina de então, frequentemente representada praticando o turfe e o tênis, ou flagrada em passeios a praias ou parques.
Neste âmbito, ele também convive com artistas e ilustradores de uma geração logo anterior à sua, como João Fahrion (1898-1970) e João Faria Viana (1905-1975), com os quais obtém importantes aprendizados. O trabalho na editora acaba sendo fundamental para sua formação artística e profissional, que se dá de maneira autodidata, já que ele não frequenta o Instituto de Belas Artes (IBA) de Porto Alegre ou aulas particulares em ateliês. Marginalizados pelos artistas com formação no IBA, diversas figuras oriundas do ambiente gráfico da editora Livraria do Globo se organizam para fundar, em 1938, a Associação Rio-Grandense de Artes Plásticas Francisco Lisboa (Chico Lisboa), que conta com a participação de Edgar Koetz.
Neste mesmo ano, o grupo realiza o 1º Salão da Associação, surgido como alternativa ao Salão da Escola Nacional de Belas Artes, embora ambos compartilhassem de projetos estéticos avessos aos preceitos modernistas que se encontram em ascensão na época. Tanto que, em 1942, após organizarem o polêmico 1º Salão Moderno de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul, os próprios artistas da Chico Lisboa decidem fechá-lo, declarando que seu real intuito era desmoralizar a arte moderna. Nesta ocasião, Edgar Koetz figura como um dos signatários do Manifesto Contra a Arte Moderna, publicado na imprensa, onde há um declarado rechaço ao modernismo.
Em 1945, Edgar Koetz deixa a Livraria do Globo para trabalhar como ilustrador de jornais e revistas em Buenos Aires (Argentina), cidade que detém o maior centro editorial da América Latina da época. Nesta ocasião, recebe o grande prêmio da Câmara Argentina do Livro, por suas ilustrações para Juarez y Maximiliano, escrito por Franz Werfel (1890-1945). Nesta época, Koetz também se dedica a pinturas, onde realça resquícios de provincianismo em meio à rápida aceleração da urbe, figurados em pinceladas expressivas, com ênfase no gesto e na cor. Retornando ao Brasil, em 1950, o artista participa da fundação do Clube de Gravura de Porto Alegre, capitaneada por Carlos Scliar (1920-2001) e Vasco Prado (1914-1998). A organização traz o realismo socialista para as artes plásticas brasileiras e dá uma importante contribuição para renovar as artes gráficas do estado, repercutindo em âmbito nacional.
Dois anos depois, o artista se muda para a capital paulista, pois é convidado por Samuel Wainer (1910-1980) para trabalhar na idealização do jornal Última Hora, para o qual concebe a logotipo e atua como ilustrador e diagramador. No mesmo ano, Koetz participa da criação da Escola de Propaganda, coordenada por Rodolfo Lima Martensen (1915-1992), que funciona junto ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). A década de 1950 representa um período especialmente profícuo em sua carreira como ilustrador, com uma série de capas concebidas para os livros de Paulo Dantas (1922-2007) e Monteiro Lobato (1882-1948), publicados pela Editora Brasiliense e Francisco Alves. Também se destacam seus desenhos que ilustram a tradução de Doutor Jivago, de Boris Pasternak (1890-1960), semanalmente publicada no Jornal Última Hora, em fragmentos, ao longo de 1958. Com a Ditadura Militar (1964-1985), o acirramento da censura e o aparelhamento do jornal Última Hora levam Edgar Koetz a retornar para Porto Alegre no ano de 1964.
Edgar Koetz apresenta uma poética extremamente versátil, que transita por diversas linguagens e temas com propriedade, embora mantenha um núcleo comum de princípios formais e cromáticos, em que as pinturas absorvem elementos de seu trabalho como artista gráfico e vice-versa. Seus trabalhos fornecem um retrato do Brasil entre o fim da República Velha (1889-1930) e o Golpe Militar (1964), com a representação de personagens e hábitos da época, além do acentuado processo de urbanização e industrialização vivido no país. Ao longo de sua vida, estabelece uma relação contraditória com as correntes modernas, manifesta em episódios como o 1º Salão da Associação, que Koetz primeiro organiza e logo depois confronta. Mas a despeito de seu discurso crítico em relação ao modernismo, ele exerce plena influência sobre suas obras.
Fonte: Itaú Cultural.
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