Anita Malfatti

Anita Catarina Malfatti (São Paulo/SP, 1889 – 1964)

Pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora. Uma das mais relevantes artistas brasileiras, Anita tem papel determinante na introdução da estética modernista no país. Inicia seu aprendizado artístico com a mãe, a pintora Bety Malfatti (1866-1952). Em 1909, pinta algumas obras, entre elas a Primeira Tela de Anita Malfatti.

No ano seguinte, viaja à Europa para aperfeiçoar sua formação, e se instala na Alemanha, país que vive uma efervescência do expressionismo. Anita ingressa na Academia Imperial de Belas Artes de Berlim, onde tem aulas de desenho, perspectiva e história da arte. A linha de seus estudos, no entanto, ainda é bastante tradicional. Ao longo de sua estada na cidade, entra em contato a agitação modernista, e se interessa pelas novas linguagens, ampliadas nas aulas particulares que tem com o professor e pintor alemão Fritz Burger-Mühlfeld (1867-1927). Ligado ao pós-impressionismo alemão, ele lhe oferece possibilidades artísticas que extrapolam as abordagens tradicionais. Anita permanece na Alemanha até 1914, período em que se dedica também ao estudo da gravura.

O aprendizado das novas poéticas transparece na produção do período. O contorno clássico prevalece, mas as cores são usadas de modo expressivo e demonstram uma movimentação maior e mais contrastada que a do desenho. Embora não haja conflito com as formas, é perceptível que os elementos operam em dinâmicas distintas. Ao retornar a São Paulo, expõe esses quadros em sua primeira mostra individual, em 1914, no Mappin Stores.

De 1915 a 1916, reside em Nova York e tem aulas com professores como os pintores americanos George Brant Bridgman (1864-1943), e Homer Boss (1882-1956) na Independent School of Art. A convivência com este professor e o clima vanguardista da escola levam adiante o desenvolvimento da liberdade moderna cultivada na Alemanha. Na mesma época, realiza seus trabalhos mais conhecidos, como O Farol (1915), Torso/Ritmo (1915/1916) e O Homem Amarelo (1915/1916), nos quais, o desenho perde o compromisso com a verossimilhança clássica e ganha sentido mais interpretativo. Por vezes, o contorno grosso e sinuoso apresenta as figuras como uma massa pesada e volumosa. Em outros trabalhos, com o traço mais fechado, a cor é aplainada e compõe retratos e paisagens livres, pela articulação de superfícies em tons contrastantes.

De volta ao Brasil, em 1917, associa a liberdade de compor com formas à crítica nacionalista. Pinturas como Tropical (1917) e Caboclinha (1907) fazem parte desse esforço. Todas essas pinturas são reunidas em sua segunda individual: Exposição de Arte Moderna, em dezembro de 1917. A mostra implica respostas diversas e repercussões decisivas para seu trabalho. Se, por um lado, a exposição rende uma aproximação com os artistas e intelectuais que mais tarde realizam em São Paulo a Semana de Arte Moderna, por outro, Anita vira alvo de uma reação violenta às linguagens vanguardistas.

As posições contrárias às vanguardas de origem europeia consideram a exposição um desperdício do talento da artista, porque representa a entrega a estrangeirismos deslumbrados e mistificadores. O crítico de maior destaque é o escritor Monteiro Lobato (1882-1948), autor do artigo A Propósito da Exposição Malfatti (1917). O escritor Oswald de Andrade (1890-1954) publica no Jornal do Comércio, em 1918, artigo em defesa da pintora.

Tal reação, para alguns, abala a confiança da artista, causando impacto em sua carreira; para outros, Anita já vem oscilando esquemas formais mais realistas e soluções mais próximas do modernismo internacional. Após 1917, a pintora se aproxima da linguagem tradicional e faz aulas com o acadêmico Pedro Alexandrino (1856-1942), e, com o pintor alemão Georg Elpons (1865-1939). Encorajada pelos membros do Grupo dos Cinco, por volta de 1921, Anita se interessa novamente pelas linguagens de vanguarda. A artista expõe 20 trabalhos de cunho modernista na Semana de Arte Moderna de São Paulo (1922).

Em 1923, recebe bolsa do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo e viaja a Paris, onde permanece por cinco anos e tem aulas com o pintor francês Maurice Denis (1870-1943). Em sua estada, distancia-se de posições polêmicas da vanguarda, passa a pintar cenas de interiores, como Interior de Mônaco (1925) e La Rentrée (1927), e se aproxima do fauvismo e da simplicidade da pintura primitiva. A artista não nega o modernismo, mas evita o que ele tem de ruptura. Volta ao Brasil em 1928, interessa-se por temas regionalistas e recorre às formas tradicionais, como a pintura renascentista e a arte naïf. Leciona desenho e pintura em escolas como Mackenzie, Escola Normal Americana e em seu ateliê.

Na década de 1930, integra a Sociedade Pró-Arte Moderna (Spam) e, em razão do interesse por uma pintura mais fluente e descompromissada, participa do Salão Revolucionário (1931) e aproxima-se do grupo de pintores da Família Artística Paulista (FAP). Anita se identifica com a busca de uma pintura espontânea, desvinculada de modelos consagrados e do desejo de inovação. A partir da década seguinte amplia sua produção de cenas da vida popular. Nos anos 1950, o popular não é apenas tema, mas também passa a ser incorporado nas formas, influenciado pela arte não culta.

Embora seja uma das responsáveis pela introdução do modernismo no país, o legado artístico de Anita Malfatti passa por variadas linguagens. O vasto trabalho da artista é movido pelo desejo tanto de experimentação quanto de simplicidade e espontaneidade.

Fonte: Itaú Cultural.

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