Carlos Alberto Petrucci
Carlos Alberto Petrucci (Pelotas/RS, 1919 – Porto Alegre/RS, 2012)
Pintor, desenhista e cenógrafo. Referência da arte moderna gaúcha, é reconhecido pelos retratos, pinturas figurativas, abstratas e hiper-realistas.
Autodidata, Petrucci desenha desde a infância. Entre 1935 e 1936, aos quinze anos, inicia estudos de desenho com o pintor Adail Bento Costa, no Instituto de Belas Artes de Pelotas. Nesta época, já copiava artistas de cinema e quadros de outros pintores publicados em revistas, prática que o acompanha ao longo de sua trajetória. Muda-se para Porto Alegre em 1938, onde ingressa em uma empresa de cartazes de rua e pratica técnicas em desenho. Em 1944, é contratado como desenhista técnico na Secretaria Estadual de Obras Públicas. Neste momento, passa a desenvolver seu trabalho artístico paralelamente ao emprego público. Têm nesta fase inicial duas fortes influências, o artista Vasco Prado , com quem divide ateliê, e a Revista do Globo, periódico ilustrado de Porto Alegre.
A carreira artística de Petrucci desenvolve-se através da participação em inúmeros salões, exposições coletivas e individuais. Produz sistematicamente até o final dos anos 1990, experimentando técnicas e linguagens diversas. São temas recorrentes em seu corpo de obra retratos, paisagens hiper-realistas, pinturas figurativas e abstratas.
O figurativismo está presente desde o início de sua produção, sendo marcante a representação de cenas íntimas, como na pintura à óleo Ateliê (1947), onde representa o seu local de trabalho.
Entre os retratos, destaca-se Menino com capuz (1942), obra que abre a retrospectiva realizada em 2019 para celebrar o centenário do artista, na Pinacoteca Aldo Locatelli, na capital gaúcha, denominada Petrucci 100. No quadro, pintado à óleo sobre juta, um garoto vestido com agasalho e capuz azuis é retratado ao entardecer, em tons fechados e ambiente sombrio. Há, ainda, retratos de colegas rio-grandenses, como o Retrato de Mário Quintana (1987), do poeta e jornalista gaúcho Mário Quintana, realizado em têmpera, técnica bastante utilizada por Petrucci.
Ao iniciar trabalhos com monotipia, também passa a desenvolver obras abstratas, sendo comum encontrá-las nas produções entre 1950 e 1970, como Pedra Filosofal (1960), pintura à óleo de uma figura disforme preta com manchas verdes, amarelas e brancas, ou Sem título (1974), pintura de figuras geométricas coloridas que gravitam em um fundo laranja.
Em 1975, viaja pela primeira vez à Europa, onde entra em contato com a produção hiper-realista. Nesta época, inspirado pela viagem, inicia uma série de pinturas hiper-realistas de prédios antigos de Porto Alegre. A excelência técnica dessas pinturas marcam a produção de Petrucci. Segundo a pesquisadora Susana Gastal, o interesse de Petrucci em retratar prédios antigos, parte de uma preocupação com a transformação da cidade e o desaparecimento de sítios significativos do patrimônio arquitetônico. A reprodução com grande rigor técnico, em sua maioria em têmpera, é realizada a partir de fotografias de paisagens do meio urbano sul-rio-grandense.
Destaca-se Farmácia Carvalho (1977), uma representação da fachada de um prédio, e Torres (1979), imagem de um dia ensolarado em uma praia de Torres, no Rio Grande do Sul. Demarcam este conjunto as sombras projetadas, extremamente definidas, e o tom cromático utilizado, como em Pão dos Pobres (1976), onde as cores das paredes do prédio se repetem no piso e nas árvores, conferindo à imagem uma uniformidade sutil. Gastal menciona sobre essas pinturas uma ligeira atmosfera metafísica. Petrucci retira dessas representações o que considera um ruído visual, como postes, letreiros e, sobretudo, pessoas, deixando somente prédios, vias e vegetação. O que, segundo o artista Alfredo Nicolaiewsky (1952), confere aos quadros uma sensação de vazio e solidão. Já para o crítico Carlos Scarinci (1932), o tempo é o personagem central da série hiper-realista de Petrucci.
Petrucci também produz murais com técnicas diversas, como o mural do Edifício Santa Cruz, em Porto Alegre, onde representa tradições locais relacionadas à música e à dança. Entre 1948 e 1959, colabora com o Teatro do Estudante do Rio Grande do Sul, realizando cenários para seis peças, entre elas Antígone (1948). A convite do Serviço Estadual de Turismo do Rio Grande do Sul, Petrucci ainda realiza, entre 1961 e 1963, uma série de cartazes para divulgação do estado no Brasil e no exterior. Entre eles, o cartaz Festa da Uva 1961 (1961), realizado para a tradicional festa da Serra Gaúcha. Em tons chamativos, um grande cacho de uvas vermelhas sobre folhas verdes centraliza a imagem. As letras são recortadas em cartolina branca e coladas sobre a pintura.
Petrucci também participa ativamente do desenvolvimento artístico-cultural da capital gaúcha. Integra a Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa, da qual é eleito presidente em 1953 e 1954. Associa-se ao Clube de Gravura de Porto Alegre e ao Clube de Gravura de Bagé, iniciativas que tiveram um importante papel na renovação das artes gráficas do estado, com repercussão nacional.
Carlos Alberto Petrucci explora o gênero da pintura, sua produção é marcada por inúmeras fases, transitando do figurativo ao abstracionismo e ao hiper-realismo. Colabora para o desenvolvimento artístico da capital gaúcha, consolidando-se como uma referência da arte moderna brasileira.
Fonte: Itaú Cultural.
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