Nelson Leirner

 

Nelson Leirner (São Paulo/SP, 1932 – Rio de Janeiro/RJ, 2020)

Artista intermídia e professor universitário. Suas obras e ações se caracterizam pelo teor reflexivo e polemista. Alternando entre crítica política e social, remissões à arte e ao mercado e referências a divindades e animais, transforma objetos cotidianos em alegorias das situações que pretende destacar. 

Filho da escultora Felícia Leirner e do empresário Isaí Leirner, tem contato com a arte moderna desde a infância. Seus pais ajudam a fundar o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) e convivem com boa parte da vanguarda brasileira. Essa proximidade, no entanto, não desperta de imediato o interesse de Leirner pela arte. Reside nos Estados Unidos, entre 1947 e 1952, onde estuda engenharia têxtil no Lowell Technological Institute, em Massachusetts, mas não conclui o curso. Resolve tornar-se artista apenas na década de 1950, estimulado por trabalhos do pintor Paul Klee. Em 1956, passa a ter aulas de pintura com o artista catalão Joan Ponç, e, em 1958, frequenta, por curto período, o Atelier-Abstração, de Flexor. Não se entusiasma com os cursos. Suas telas se aproximam da abstração informal de pintores como Alberto Burri e Antoni Tàpies.

Entre 1961 e 1964, continua com a pesquisa de materiais, mas com outra direção. Interessado nas poéticas dadaístas, produz seus quadros com objetos recolhidos na rua, gerando a série Apropriações. Em 1964, o artista abandona a pintura e passa a trabalhar com elementos prontos, fabricados industrialmente. Recolhe objetos de uso e desloca seu sentido, como em Que Horas São D. Candida (1964). Seus trabalhos estão entre a escultura e o objeto. A participação do espectador é incorporada a obras como Você Faz Parte I e II, (1966). Nesse ano, funda o Grupo Rex, com os artistas Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, Carlos Fajardo, José Resende e Frederico Nasser. O coletivo promove happenings e publica o jornal Rex Time. O grupo se volta a problemas como as relações da arte com o mercado, as instituições e o público, sendo tudo isso abordado com base nas linguagens radicais dos anos 1960.

A presença de elementos da cultura popular brasileira, marcante desde os anos 1960, cresce a partir da década de 1980. Em 1985, realiza a instalação O Grande Combate, em que utiliza imagens de santos, divindades afro-brasileiras, bonecos infantis e réplicas de animais. Pretende converter em arte o que é considerado banal. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1997, e coordena o curso básico da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage). A partir dos anos 2000, seu trabalho se apropria de imagens artísticas banalizadas pela sociedade de consumo. De maneira bem-humorada, lida com as reproduções da Gioconda [Mona Lisa] (1503/1506), de Leonardo da Vinci, e a Fonte (1917), de Marcel Duchamp, como tema artístico. Com a mesma ironia, o artista replica sobre couro de boi imagens da tradição concreta brasileira, na série Construtivismo Rural. Com uma carreira profícua, de obras heterogêneas e de teor crítico e reflexivo, Leirner torna-se, enquanto produtor e educador artístico, uma figura importante para o desenvolvimento da arte moderna no Brasil.

Fonte: Itaú Cultural.

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